A Auê está de volta!
Após um período sem querer escrever uma mísera oração simples, acredito que tenha encontrado uma direção para esta newsletter seguir, já que os temas que fizeram ela nascer ficaram pelo caminho.
Depois de pensar e pensar sobre o que eu poderia falar aqui, pensei em aceitar que não tinha muito assunto para debater e deixar quieto. Até que — lá vem o sol em aquário — serendipity. Então vou recomeçar contando uma história:
Faz algum tempo que ando numa sanha de querer organizar coisas. Arrumação nunca foi meu forte, mas é impressionante a diferença que a ordem (mesmo caótica) faz na minha rotina. Após separar e doar boa parte do meu acervo, e dividir o restante sob uma organização lógica, ficou evidente que eu precisava de outro armário para guardar coisas, especialmente edredons, roupas de inverno, casacos longos etc.. Dei início à busca em lojas online e marceneiros locais, mas a procura andava tão infrutífera que pensei em pedir ajuda no Twitter — um movimento bastante arriscado hoje em dia.
Aí, no último feriado, teve festa no asilo da cidade. Faz seis anos que moro aqui e nunca consegui visitar o bazar de caridade dessa instituição, que só abre em um dia específico. Dessa vez, ele ia ficar aberto o dia todo, então aproveitei o convite de uma amiga e, pontualmente às 10h30, estava na fila para entrar no galpão. A primeira coisa que avistei lá longe, ao entrar, foi um armário. E não era só isso: era um armário do mesmo modelo do que eu tenho em casa, minimamente gasto, e custando somente R$ 80! A partir daí, meu dia entrou numa engrenagem que me deixou extasiada a cada etapa.
Parei feito um cão de guarda ao lado do móvel, esperando que uma das “Bazarentas”, nome genial dado às funcionárias do bazar, viesse colar um adesivo alertando os clientes que PERDEU, MERMÃO. Enquanto isso, um outro candidato a proprietário do móvel anunciava, resignado, que poderia fazer o carreto para quem o comprasse. E foi o que aconteceu: o Pedro fez o carreto pra casa do Odil, restaurador, que me devolveu em uma semana o guarda-roupas em perfeito estado.
O que eu queria contar aqui é que muitas vezes eu me perco tentando achar uma coisa que me anime de verdade, e sempre é mais fácil dizer “ah, não sei”. Nesse dia da festa, eu estava certa de que antiguidade + pechincha + isso de tudo dar certo era o que me fazia me sentir viva — tanto que, quando finalmente cheguei em casa, fiquei o resto do dia capotada no sofá. Eu não estou muito acostumada a sentir energias assim. E a êxtase não acabou: agora arrumado, comprei forro para as gavetas e espero encontrar novos puxadores para as portas. As roupas estão todas à vista e a ordem que eu tanto desejava chegou.
Uma história interessante: The Story of Paul Ohtaki and the Internment of Japanese Americans During WWII - My Favorite Murder
Sabe quando você tá ouvindo um podcast sem muito propósito, e de repente tá secado umas lágrimas emocionadas por uma história desconhecida? Ei-la. Você pode ouvir o episódio em qualquer agregador de podcasts, ou rolar a tela e ler a história por completo (tudo em inglês).
Ontem alcancei o nirvana vendo vídeo de tapete
Minha cabeça gosta de me maltratar aos fins de semana. Quando estou sozinha em casa, tentando relaxar, é quando ela começa a soltar farpinhas mui distantes da realidade, e que na hora soam como a voz da razão. Ontem foi assim, queria ter feito algumas coisas (o forro das gavetas supracitado, a presente newsletter que estava atrasada), mas chegou num ponto que ou eu sucumbia aos pensamentos e começava a semana maluca, ou esvaziava meu cérebro. Fui com a segunda opção.
Inicialmente, eu tinha planos de entrar no wormhole do assunto “mole people”, mas aí descobri que era uma parada super deprê - e não um tipo de Pé Grande que habita o subsolo, como eu imaginava - e acabei clicando num vídeo de limpeza de carpete que estava ali recomendado.
Em poucos minutos, fui acolhida por uma sensação de conforto que não sentia desde a infância. Cada camada de espuma, cada volta do esfregão elétrico, cada enxágue com ajuda do rodo foi formando um domo sobre mim, levando aquele estrume em forma de sinapse embora. Quer dizer, a sensação era mais de cabeça esvaziada, os pensamentos de antes deixando de fazer sentido, e eu me protegendo de mim mesma. Por 44 minutos, esqueci de tudo à volta. Depois, fui fazer o skincare e me deitar, pra acordar nesta segunda me sentindo imensamente melhor.
Se minha cabeça voltar a me atormentar, posso recorrer à magia do canal polonês Lubuskie Centrum Czystosci.
Acho que encontrei um caminho, parece? Ou esse Auê virou um enterro?
Aproveita pra me contar o que te faz se sentir confortável! Nos vemos mês que vem?
Cê já conhece o mundo dos vídeos de restauração de pintura? Sou um grande apreciador do Julian Baumgartner