Preciso ir, mas fiquem com o que eu penso
Uma saída certeira para a falta de beleza na vida é buscar os sucessos do passado
Deixe-me ir
Preciso andar
Vou por aí a procurar
Rir pra não chorar
Deixe-me ir
Preciso andar
Vou por aí a procurar
Sorrir pra não chorar
Quero assistir ao sol nascer
Ver as águas dos rios correr
Ouvir os pássaros cantar
Eu quero nascer
Quero viver
É com esta canção de Cartola que inicio a edição de maio, que custou a sair. Custou tanto que considerei fazer esta versão paga, para me compensar o sofrimento. Foram alguns rascunhos apagados, porque não estava satisfeita, até perceber o motivo: nada anda me satisfazendo.
Não tem muito como evitar o assunto quando ele é tudo no que você pensa o dia todo: estou mais uma vez deprimida, mas não quero fazer deste texto a festa da compaixão. É um fato, e a gente lida com o que tem, até porque estes sentimentos ruins são, em parte, resultado da minha psiquiatra brincando de deus comigo. Já conversamos a respeito, ela está proibida de retirar qualquer medicação do meu tratamento até segunda ordem.
Voltando à música, acho a letra de Preciso Me Encontrar uma boa definição do que se sente com depressão — a gente quer ir (embora), mas também quer ir (andar, procurar, se encontrar). Quer mudar a situação modorrenta que costuma ser essa fase buscando novas formas de viver, de ver as coisas, nem que seja dormindo por horas. Quem sabe os sonhos ajudam — ajudam, sim. A gente quer rir pra não chorar, e busca no humor mais bobo uma saída. É algo que ouço bastante quando digo que trato da depressão há duas décadas, “nossa, mas você é tão engraçada” ou “não percebi que você estava tão mal, tá sempre fazendo piada”. Rir pra não chorar, gente.
Estou passando uns dias no interior do interior, estabelecendo pequenas metas diárias e, principalmente, contemplando a natureza. Quero assistir ao sol nascer, ver as águas do [laguinho] correr, ouvir os pássaros cantar. Quero viver. Tem sido bom.
Lembro de um namorado que sempre se despedia de mim com essa música, e eu, 20 anos, lobo frontal ainda em desenvolvimento, ficava enciumada pensando que, se ele queria tudo isso ao ir embora, não estava satisfeito comigo. Era só uma música, calma. Hoje, ela tem muito mais significado para mim (e o namorado ficou cantando lá no passado, no h8).
Bem, como eu disse, não quero fazer desta edição uma choradeira, então achei nos meus escritos antigos uma forma de ENTRETÊ-LOS, porque a gente que é condicionado a agradar os outros se preocupa com o bem-estar das visitas. Separei alguns textos do meu Medium sob a tag Eu Penso Muito Nisso, uma cópia descarada de uma seção do The Cut. São assuntos variados, de aforismos de novela a regravações de sucessos do metal, com os quais eu espero vos divertir. A eles:
Eu Penso Muito…
“…nascido Mason Durell Betha, era o que chamamos aqui na roça de “o menino do Puff Daddy”. Não é filho, nem de sangue, nem de criação — é mais um protégée, com a diferença disso não existir pras bandas de cá. Ao invés de botar na escola boa e empregar como boy da firma de contabilidade, Sean Combs foi além e contratou o garoto que recém-abandonara a faculdade, onde tinha uma bolsa de esportes, pra cantar com a galera dele na Bad Boy Records.”
Na versão de “The Unforgiven”, por Cléo Brandão e Dr. Sin
“Dr. Sin é uma banda que eu confundo com Viper, mas não confundo com Angra. Não que eu entenda alguma coisa de metal brasileiro.”
Na transição Trio Maravilha-Fofão
“Nunca fui muito fã da Mara pra falar a verdade, e pro subproduto de seu programa eu nem cheguei a dar bola. Assistia como assistia o que estivesse passando. Quanto ao Fofão, seguia à risca a recomendação de minha mãe de ‘não usar de entretenimento a deficiência alheia’. Tudo bem que décadas depois eu vim a descobrir que ele era, na verdade, um cachorro”
“Eles escolheram Rofo's Theme (Radio Edit), da dupla belga Rofo, para mostrar seus movimentos: muita virada brusca de cabeça, chute lateral, sorriso rasgado, palmas que trabalham toda a musculatura dos braços. Em alguns momentos, um tipo de frevo menos malemolente entrava na coreografia. As caras que eles faziam pareciam dizer "venha, é fácil", como um líder de seita faria para te convencer.”
Nos aforismos de Marcos, o agressor de mulheres
“Ele segue filosofando no que parece um compilado de aforismos sobre o tema ‘olhos’ do site Pensador:”
No clipe de Looking for Love, do Tom Hooker
“Nessa noite, imaginei formar uma banda com o intuito de reproduzir essa música — mas antes preciso explicar um negócio: na infância, meu sonho sempre foi me apresentar. Fosse cantando, dançando, liderando um grupo infantil ou sendo anfitriã de um programa matinal, eu queria brilhar e aparecer. Daí você já pode concluir o que me faltou ou teve em excesso na minha criação, eu não ligo, só sei que era assim.”
É isso, caros. Espero estar melhor no mês seguinte, vendo beleza em tudo, totalmente fora da realidade. Mentira, impossível. Espero, somente, não precisar falar mais nisso. Até!
Disclaimer que pretendo deixar eternamente ao final das edições, pra quem chega aqui pela primeira vez:
Meu nome é Bia Bonduki, e eu sou escritora. Quer dizer, eu sou meio pau pra toda obra, mas em 2022 eu lancei meu primeiro livro, Até contentar o coração, e usei desta newsletter para fazer as atualizações do processo, junto com outras incursões que fazia no passado – delivery de pratos árabes, meus textos no Medium e o podcast Eu Tive Um Sonho. Agora, por aqui, falo da vida em geral, das coisas que tomam espaço na minha cabeça e me mantêm acordada por mais tempo, além de fazer recomendações de coisas que li/ouvi/assisti/conheci.
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A sessão entertainment tá cumprindo o propósito, mas o que mais me impactou foi o texto sobre a música e suas interpretações. É belo, é melancólico, é sensível, é artístico. Transparece a dor, mas nem toda leitura tem que ser analgésica. Belo trabalho, como sempre!
Poxa, Bia, força! Acho que sei como é essa sensação de querermos ir embora de nós mesmos. E vc nos entreteve demais com essa sessão "Eu penso muito", quantas lembranças aleatórias divertidas 😅