Olá, como vão?
Queria fazer uma edição sobre coisas outras, mas a vida, né, nunca tá de acordo com o que a gente quer. Enfim, não queria tornar essa newsletter sobre a minha saúde mental, mas aconteceu um negócio que encerra um ciclo, e acho importante contar. Vai que ajuda alguém que tá na mesma.
Em 2011, quando voltei para São Paulo após uma temporada de dois anos em Brasília, precedida por um ano em São Paulo, um no interior e seis meses no exterior, prometi para mim mesma que ia ficar pelo menos cinco anos sem me mudar, nem de apartamento. Consegui, mas por muito pouco.
Eu tinha um cabeleireiro uma época que, toda vez que me via, falava: “você cada hora é uma coisa, loira, lésbica, cantora, casada, secretária”. Aquilo ressoava em mim como uma inconstância, um tipo de imaturidade de não conseguir parar por muito tempo em um lugar, em um emprego, em uma relação. Com o tempo, passei a aceitar que minha vida era assim mesmo e aquele era meu defeito.
Mês passado eu decidi que ia prestar concurso, o que é a cartada final de quem não sabe mais o que fazer. Estava cansada de mandar currículo, fazer portfólio, adaptar essas coisas para serem lidas por IA (iiirc!) e não receber resposta alguma. Entrava todo dia no LinkedIn e queria me jogar da ponte a cada post vitorioso corporativo de sabedoria e aprendizado. Até que recebi uma mensagem de uma inquilina da minha mãe.
Essa inquilina aluga uma sala comercial que é parte da casa que estou reformando para morar, é literalmente a antiga sala de estar da casa. Faz dois anos, ela montou uma loja de marmitas ultracongeladas que tava indo super bem, mas a vida entrou no caminho e ela decidiu fechar. Me chamou pra saber se eu queria ficar com a loja ou se podia entregar de vez o ponto.
Nesse momento, me passou na cabeça que se eu ainda tivesse a Hanuni, seria uma oportunidade, mas eu não queria investir dinheiro se o problema principal continuaria sendo produzir tudo sozinha. Agradeci e falei que ia notificar minha mãe, que ouviu a história toda e falou “você não tá vendo a oportunidade?”. Eu até que tava? Mas os meses sem rumo, deprimida, me tiraram um pouco a capacidade de pensar adiante.
Levei alguns dias pensando, conversei muito com minha irmã e meu cunhado - que têm experiência em culinária - e decidi me arriscar. Na mesma semana, começamos a transição, eu passando o dia na loja fazendo sombra na moça para aprender tudo o que era necessário para o negócio funcionar.
Segunda passada foi meu primeiro dia oficial como dona de loja. Decidi que vou ficar até o fim do ano fazendo exatamente o que ela fazia, com o mesmo nome e a mesma identidade visual, pra ir mudando aos poucos. Conhecendo os clientes e estudando as demandas deles para agir de acordo. Em breve, terei uma delicatessen para chamar de minha.
Por maior que seja minha alegria em ver que tudo mudou em questão de dias, ainda vem uma cobrança interna de “uai, largou a comunicação de vez?”, sendo que eu tomei essa decisão pela primeira vez em 2009. Meu termômetro para saber se fiz a escolha certa é sentir um alívio enorme ao pensar que não preciso mais entrar no LinkedIn e tentar convencer empregadores que, aos 43 anos, eu valho mais que dois de 20 e poucos. Entre passar uma manhã etiquetando marmita e ficar três horas numa call, eu fico com a primeira opção. E nem é como se eu fosse abandonar de vez a minha formação, afinal, eu ainda preciso fazer planejamento de marketing e comunicação pro meu negócio enquanto não puder pagar alguém para fazê-lo, então é o melhor dos dois mundos.
Quando as coisas vão mesmo mudar na nossa vida, é contraproducente lutar contra. Eu não sei dizer se essa loja vai dar certo, pode ser que seja um sucesso ou que eu precise fechar em menos de um ano, mas eu precisava tentar pra saber. Se eu tivesse dito não para a inquilina, eu continuaria de bode, dormindo a tarde toda e fingindo estudar para o concurso, que vou prestar mesmo assim. Vai que eu passo e tenho que escolher entre duas boas alternativas? A Bia de alguns meses atrás jamais imaginaria.
Meu nome é Bia Bonduki, e eu sou escritora. Quer dizer, eu sou meio pau pra toda obra, mas em 2022 eu lancei meu primeiro livro, Até contentar o coração, e usei desta newsletter para fazer as atualizações do processo, junto com outras incursões que fazia no passado – delivery de pratos árabes, meus textos no Medium e o podcast Eu Tive Um Sonho. Agora, por aqui, falo da vida em geral, das coisas que tomam espaço na minha cabeça e me mantêm acordada por mais tempo, além de fazer recomendações de coisas que li/ouvi/assisti/conheci.
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Me vejo nos mesmos dilemas, Bia. Conciliando 3 atividades remuneradas, sempre preocupada com a grana e disponível para o que aparecer. Mas confesso que atualmente meu sonho é um emprego público, nem que seja de coveira e assim deletar o LinkedIn.
oi Bia! Não te conheço, um trecho do seu texto apareceu do nada aqui. Mas é tocou, falou comigo. De forma bem diferente eu também estou num momento que, de algum jeito, se parece. Espero que de tudo certo, vamos trilhando o que for fazendo sentido! abraço